PEDAÇOS DE MIM

Qual é a minha breve história de vida e como ela pode inspirar outras pessoas?

Sou uma mulher que desde muito cedo ambicionava ter o seu espaço privado para morar, vivendo de uma forma independente, com um trabalho que a pudesse sustentar. Esta era a meta a ser concretizada aos quinze anos de vida. O sistema de ensino mudou e o não me sentir capacitada para exercer qualquer tipo de profissão com as habilitações aquiridas à época, fez-me adiar o sonho!

Paralelamente, tinha também o sonho de viver um amor intenso – um ‘amor para a vida’!

Quando a paixão surgiu, desejei que fosse ‘para sempre’.

Comecei então a amar com dependência e exigência de dedicação total.

Dediquei-me de alma e coração, mas tudo o que recebia de volta era indiferença e desapego.

Desiludida, comecei a largar pedaços de mim, espalhando-os à minha volta na esperança vã de que o outro os encontrasse e mos devolvesse, voltando a colá-los no lugar, com a cola do amor.

Dilui-me até perder tudo o que me era próprio.

Despedacei-me, ao ponto de não ver mais motivo para viver….

Ingénua e imaturamente, não me soube afastar da relação vazia em que me encontrava, uma relação onde dava tudo, sem nada receber.

Perdi-me de mim, anulei-me, desmpoderei-me.

Tornei-me invisível. Rastejei por amor, mendiguei por atenção, desrespeitei-me!

 

Destituída de toda a auto-estima, supliquei, libertei, pedi a quem amava com tanta intensidade, que fosse procurar fora, o que não encontrava em mim.

Desacreditei-me!

Cheguei ao fundo de mim, vazia e sem auto-respeito.

Vivi no limbo anos a fio, suplicando por atenção.

Anulei-me!

Não sabia já quem era – perdera a minha identidade! Da pessoa forte de outrora, restava um espectro perdido e sem rumo.

Quando nada mais tinha para dar, procurei em mim a causa de todo o desamor – não encontrei!

Tornei-me vítima e carrasco. Comecei, em vão, a exigir tudo aquilo a que ‘tinha direito’.

Cheguei ao fundo. Era transparente, invisível, sem valor!

Quando finalmente acordei para o facto de que nada mais obteria daquela relação fantasma, decidi-me a apanhar os cacos.

Tomei então consciência de que sempre estivera só, numa relação ‘a dois’. Era mâe, pai, doméstica, trabalhadora, escrava, mas mais importante, prisioneira de mim!

Resolvi testar-me, colocar à prova a minha força que decidi resgatar do fundo de mim! Decidi assumir que estava só naquela relação. Decidi contar apenas comigo para suprir todas a necessidades da casa, trabalho, filhos e minhas.

Empoderei-me!

Comecei a descobrir-me, a recriar-me e a reinventar-me.

Comecei a dar-me valor e a perceber do que gostava. Fui-me libertando …aos poucos.

Retomei o gosto pela leitura (li muito!), pelo cinema, dança e aprendi que havia muita coisa que me dava prazer, sem que eu alguma vez tivesse percebido.

Despertei para a vida!

Emancipei-me!

Sem trabalho, com um ordenado no bolso, dois filhos na bagagem e sem lar onde regressar, parti à aventura!

Felizmente encontrei uma porta que nunca se fechara e que se escancarou para me acolher mais à minha prole, com carinho, amor, disponibilidade e apoio – regressara às origens- ao local de onde partira.

Percebi então que 17 anos depois nada mudara, continuava cativa!

Dezoito meses mais tarde comecei a construir o lar com que sempre sonhara!

Mas a vida deu muitas voltas depois disso!

Finalmente, após cinquenta e um anos de ‘cativeiro’, resolvi abrir as asas e voar à descoberta de mim!

Tornei-me numa mulher em busca de um sentido e encontrei assim o meu propósito!

Hoje sei quem sou, sinto-me

INTEIRA,

LIVRE e …

CONVICTA DE MIM!