Espelhos de Mim

Foi quando percebi que aquilo que não gostava e não suportava nos outros, reflectia uma parte desconhecida de mim, que todos os meus relacionamentos foram alvo de um ‘improvement’ incomensurável.

Sabes quando algo que o outro faz ou diz, te irrita solenemente? Essa situação é-te familiar?

Pois muitas vezes passamos por ela em ‘piloto automático’ e, quando damos por isso, já está a acontecer de novo! E ficamos irritadíssimos, especialmente se é uma situação reincidente com uma pessoa com quem lidamos numa base frequente.

Um dia, ao ler um dos muitos livros que me apaixonam, aprendi algo que me alertou para o facto de que devíamos estar atentos a este tipo de situação, e fazer-nos algumas questões do tipo:

‘O que é que pode existir em mim, que possa estar a ser reflectido nesta situação?’;

‘O que é que eu faço, ou digo, sem que me aperceba, que possa ser semelhante a isto?’;

‘Quando e em que situações, é que eu posso ter tido uma atitude semelhante a esta?’;

‘O que é que eu posso ter em comum com esta pessoa e que, por não gostar, não consigo perceber que tenho, ou não consigo admiti-lo conscientemente?’

Parece patético, não é? Como é que nós podemos ter dentro de nós, algo que tanto nos irrita? Como é que poderemos ser parecidos com alguém cujo comportamento não suportamos?!

Desafio-te a pensares sobre isto, de cada vez que te sentires solemente ofendido ou furioso, com a atitude de alguém.

No meu caso foi surpreendente aquilo que aprendi a conhecer sobre mim. Depois da revolta inicial que sentia quando me via perante uma situação destas, dediquei algum tempo a reflectir sobre os assuntos e na maioria dos casos, nem sempre de uma forma imediata, encontrei atitudes minhas que praticava de uma forma ‘automática’ e que não me apercebia de que faziam parte integrante do meu comportamento em determinadas situações.

A partir de certa altura, mudei de atitude e quando percebia que alguém estava a começar a provocar-me algum tipo de desconforto, em vez de ficar irritada, ficava quase com vontade de rir, pois conseguia já identificar os meus comportamentos semelhantes.

Então, em vez de me deixar envolver emocionalmente pela situação, distanciava-me um pouco, permanecendo num estado de calma e tranquilidade tal, que acabava por deixar a outra pessoa algo perplexa. Ao ver que eu continuava imutável, como se aquilo não me dissesse respeito, (e na realidade não dizia, pois a forma como os outros decidem reagir só a eles diz respeito e aquilo que podem pensar de nós, é apenas a sua visão, que nós podemos respeitar, mas não temos que aceitar se sentimos que não somos aquilo que estão a ver!), a pessoa acabava por acalmar de uma forma espontânea o que abria a possibilidade para então, eventualmente, se dialogar, duma forma civilizada.

Nessas situações, o facto de comunicar assertivamente ao outro, que aceitava o seu ponto de vista, e que até podia compreender, mas que não o poderia subscrever por não ser a minha forma de pensar ou de actuar, consegui abrir espaço para uma comunicação saudável e, na maioria dos casos, produtiva.

Da importância de me auto-observar e aceitando o pressuposto da Programação Neurolinguistica que afirma que ”Todas as pessoas fazem o melhor que podem, com os recursos que têm disponíveis no momento”, quando vejo uma pessoa a actuar duma forma que me parece completamente descontrolada ou excessiva, olho para ela  compassivamente, pois compreendo que aquilo é fruto dos recursos de que dispõe no momento, por muito escassos que sejam. Assim em vez de alimentar uma situação que poderia evoluir para um confronto ou um momento de altercação desconfortável, alimentando a ira do outro ao tentar demonstrar, pela força, a minha opinião, ou opondo-me à sua, permaneço tranquila e em paz, pois aquela ‘não é minha luta’.

Dentro de mim há agora muitos mais momentos de paz, pois quando me encontro perante uma situação de desconforto deste tipo, percebo onde é que ela reflecte a minha atitude ou comportamento, tirando daí uma aprendizagem, em vez de me sentir alterada e aborrecida com quem a causou.

Desafio-te agora a olhares para os outros como o reflexo do teu interior…para o melhor e para o pior e vais perceber como  a relação contigo mesmo vai melhorar e a relação com os que te rodeiam vai evoluir para um patamar que nunca imaginaste possível…só porque resolveste mudar uma pequena atitude!

Uma pequena mudança, que  trará um valor acrescido no teu bem-estar!

Helena Anjos

”Por vezes a coisa mais importante que fazemos num dia inteiro, é aquela pausa que fazemos entre duas respirações profundas.” ,                   Etty Hillesum