Limites, ou Importância de Saber Dizer ‘Não’
Em quantas situações da tua vida já disseste ‘sim’, quando na realidade querias dizer ‘não’ ?
Pode ter acontecido no trabalho, entre amigos, com pessoas que acabaste de conhecer, ou mesmo nos teus relacionamentos íntimos.
Alguma vez te questionaste o porquê de o teres feito?
Comigo tem acontecido, umas vezes por não querer ser desagradável para quem está do outro lado, outras por querer ser vista como uma pessoa simpática, de fácil trato, outras pelo medo da não aceitação por parte do outro, outras ainda, pelo medo de que o ‘não’ me faça perder uma ‘boa oportunidade’….
Em geral, desde crianças que somos confrontados com o condicionalismo de que devemos agradar aos demais, como um princípio de civismo e bom relacionamento.
Quantos de nós teremos sido educados para ‘ser um bom menino ou menina’, ‘um bom colega, ou uma boa colega’, ‘respeitar os outros’, ‘não desapontar os outros’, ‘fazer e dizer o que esperam de nós’?
Quantos de nós ao olhar para trás, não descobrimos que vivemos condicionados para ser o/a ‘filho ou filha perfeita’, ‘aluno ou aluna perfeita’, funcionário ou funcionária perfeita’, ‘mãe ou pai perfeitos’….?
No meu caso foi assim. Vivi desde tenra idade formatada para exercer na perfeição todos os papéis que iria representar ao longo da vida, pois achava que só assim seria digna de amor, seria estimada e obteria o reconhecimento exterior.
Fruto deste condicionamento, desenvolvi uma imagem que em vez de mostrar quem sou de verdade, mostrava aquilo que os outros esperavam de mim.
Muitas e muitas vezes disse ‘sim’, quando queria dizer ‘não’, sofrendo bem no fundo do meu ser as consequências de viver uma vida incongruente com a minha vontade e em desrespeito por mim.
As minhas necessidades acabavam em segundo plano e via-me envolvida em situações que me desagradavam, só porque…era o melhor para os outros.
Nunca me apercebi de que ao dizer ‘sim’ aos ‘outros’, estava a dizer ‘não’ a mim e ao fazer isto estava a desrespeitar-me.
Acontece que eu não estava consciente de que poderia comunicar os meus limites e ainda assim, viver de uma forma harmoniosa.
Quando respeitamos a nossa vontade e a nossa integridade, aprendemos que podemos comunicar os nossos limites e afirmar o nosso ‘não’, de uma forma assertiva, em respeito mútuo.
Todavia, só conseguiremos articular esse ‘não’, quando estamos cheios de amor próprio, (que é diferente de egocentrismo!).
Cada um de nós tem direito às suas ‘fronteiras’ e isso deve ser tomado como uma ‘verdade universal’, pois quando assim não é, significa que há por trás convicções muito fortes que poderão vir da nossa personalidade intrínseca, dos condicionalismos da nossa educação, ou ainda de condicionalismos culturais e sociais.
Quando não honramos e respeitamos essas fronteiras, acabamos por nos identificar apenas pelo valor que os outros nos dão.
Por isso, é de vital importância, não só descobrir quais os nossos limites, mas também comunicá-los aos outros para que os possam também respeitar.
Uma forma de implementar isto, é aceitar que temos o direito a respeitarmo-nos, da mesma forma que respeitamos o próximo. Se eu não desrespeito o meu semelhante, por que motivo permitirei desrespeitar-me a mim?
Aceita-te tal como és e permite-te respeitar o teu ‘Eu Interior’.
Lembra-te no entanto de que os outros estão nas mesmas circunstâncias.
Esta questão é de extrema importância nos relacionamentos íntimos e familiares, mas também nas amizades e no meio profissional.
Informa as pessoas com quem interages de quando estão a entrar na tua fronteira, ou quando sentes que estão a ultrapassar os limites do respeito pela tua pessoa.
Da minha experiência pessoal, apercebi-me de que muitas vezes os conflitos conjugais surgem, porque os intervenientes não souberam comunicar os seus limites.
Quando estamos no auge da paixão e do enamoramento, nem sempre é fácil, pois sentimos a necessidade de mostrar o melhor de nós, com medo da rejeição por parte do outro e porque o momento é descoberta e de envolvimento intenso.
À medida que o tempo passa, vamos driblando as nossas necessidades e vontades, para nos adaptarmos ao companheiro/a, na intenção de viver uma vida harmoniosa.
Contudo a vida vai progredindo e começamos a sentir-nos cansados de viver em desacordo com aquilo a que damos valor, o que começa a gerar em nós uma inconsistência, que poderá manifestar-se de várias formas. Poderá ser o alheamento, um adormecimento da relação em que ligamos o ‘piloto automático’ para as acções que devem ser tomadas e nos narcotizamos, com os meios legais à nossa disposição, quer sejam as redes sociais, a TV ou outros, afastando-nos assim do envolvimento emocional e da intimidade que outrora nos unia, provocando o esfriar e o esvaziamento da relação.
Do meu modesto ponto de vista,
quanto mais cedo nos permitirmos abrir a falar sobre limites, maior será a possibilidade de construir uma relação sólida, honesta, saudável e duradoura, em que ambas as pessoas se apoiam mutuamente, criando assim laços sólidos que permitem um caminhar lado-a lado, ao longo dos desafios da vida, incentivando- se a crescer.
Já paraste para pensar nos teus limites e quais poderão não estar a ser respeitados?
Helena Anjos
”Para ser belo, seja você mesmo. Não precisa da aceitação dos outros. Precisa é de se aceitar a si.” Thich Nhat Hanh
”Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.”
Ricardo Reis