Mudar Também é Crescer!
Por vezes, em fases da vida em que nos parece que estamos estagnados, estamos na verdade a crescer.
Sempre fui uma pessoa urbana e a minha ”urbanidade”, levava a que me sentisse completamente desconfortável em qualquer programa que envolvesse a Natureza por algumas horas. Quanto mais distante me encontrasse da ”civilização”, mais desconfortável ficava.
Tinha a sensação de estar perdida, sem saber o que fazer, ou como me comportar – sem propósito!
Sentia-me presa e desconfortável e a ansiedade para regressar à minha área de conforto era enorme.
Quis a vida que eu passasse um longo e frio inverno, numa povoação do interior alentejano com umas escassas centenas de habitantes e onde a rede telefónica ou de internet eram praticamente inexistentes.
Para poder comunicar, tinha que percorrer os 15 km que me separavam da pequena cidade mais próxima. Foi precisamente na primeira metade desse percurso, que fazia com frequência, um trilho praticamente rural por onde mal cabiam dois carros lado a lado, que aprendi a apreciar e a sentir a beleza da Natureza que me rodeava.
Esses meses, se não tiveram outro propósito, serviram para que eu aprendesse a ”viver o campo”, as árvores, os pássaros e até o céu, que naquele local, era inexplicavelmente mais belo!
A experiência foi de tal modo intensa que consegui trazê-la comigo e integrá-la na forma como agora ”vivo a cidade”.
Hoje, envolta pelo bulício citadino, consigo vislumbrar uma pequena flor que nasce ‘no meio do nada’- convicta; um fruto a espreitar escondido numa árvore, ou ouvir o chilrear de um pássaro tímido, que me chama a atenção por entre o ruído, por vezes ensurdecedor, do trânsito que circula.
Todos transportamos em nós dois lados, aparentemente contraditórios, frequentemente desconhecidos, mas que representam duas versões de nós mesmos, que são parte integrante de quem somos.
Também eu agora, ao deambular pelas ruelas estreitas da cidade, em pleno dia, vou descobrindo um lado boémio que habita em mim a que era completamente alheia, até que, ao passar por um qualquer local antigo (agora renovado), com anos de história, não só me identificar com o espaço, como experienciar um ímpeto para entrar e sentir a energia de tantos outros que por ali passaram ao longo de décadas, marcando a história literária de um país, por exemplo.
Inexplicavelmente, percebo que de alguma forma que me é estranha, faço parte daquele local e isso deixa-me perplexa, pois foi algo que nunca havia sentido.
E é precisamente ao questionar-me e estar atenta ao que me rodeia, fugindo do piloto automático em que outrora vivia, que vou desvendando um lado que me era desconhecido e por isso julgava ser inexistente.
Isto leva-me a pensar que não nos conhecemos completamente a nós próprios e à medida que nos permitimos aprofundar, reparamos que ‘mudamos aos nossos olhos’.
Como poderemos então esperar que os outros com quem nos relacionamos, permaneçam fieis e iguais à pessoa que eram quando os conhecemos?!
Perceber e apreender a mudança, aceitando-a como parte da evolução, em nós e no outro, conversar sobre ela e integrá-la na nossa realidade, é algo que pode ser desafiante, mas também muito prazeroso.
É importante olhá-la como fruto do amadurecimento e crescimento individual de cada um, como humanos que somos, sujeitos às influências do meio, mas também como o resultado da auto-descoberta e do aprofundar da resposta à questão: ”Eu, quem sou?”
Só assim o nosso relacionamento poderá crescer e evoluir para o próximo nível.
Helena Anjos
Créditos:imagem tela: Richard Mcall by Pixabay; Foto eléctrico: Laura Rinke by Pixabay