Votar: Dever ou DIREITO Cívico?
Uma opinião meramente pessoal, fruto da liberdade de expressão e que dedico a meus filhos, em dia de eleições.
Nasci numa época em que aos meus ancestrais estava vedada a capacidade de escolher quem queriam que governasse o país.
À época, o voto só poderia ser exercido através de um convite do Governo efectuado a alguns cidadãos , considerados ”merecedores” de fazer a sua escolha – ”acertada”, certamente!
Durante os primeiros 10 anos da minha vida nem sequer conhecia a existência da palavra ”voto”, ou do significado do verbo ”votar”.
Após esse período e fruto da queda da ditadura, uma das grandes vitórias da população foi a possibilidade de poder escolher livremente se iria ou não votar, para escolher os orgãos de poder do seu pais.
Durante muitos anos abstive-se conscientemente de participar activamente na vida política, pelo que não me sinto no direito de criticar o que que é ou não feito.
Após ter estudado economia na universidade, disciplina que, confesso, me fascinou, passei a escolher olhar para a política pelo prisma do mérito que alguns cidadãos têm, pelo facto de abdicarem de uma parte da sua vida pelo bem maior de tomar nas mãos o destino político do seu país.
Como em tudo há bons e maus políticos. Há os que ‘servem’ e os que ‘se servem’ e isso não está em causa.
Foi também o estudo económico que mais me fez afastar da política, ao descobrir que aquilo que muitas vezes é socialmente importante para os cidadãos ou para o país, não o será do ponto de vista da política económica do partido A ou do partido B.
Este afastamento contudo, não me coíbe de exercer o meu direito de voto de uma forma não menos consciente.
Hoje o voto que coloco na urna, tem por trás uma homenagem que faço a todos os portugueses que durante 48 anos se viram impedidos de expor a sua opinião e manifestar a sua opção de escolha no rumo que gostariam que o Portugal tomasse.
Reportando-me a tempos ainda mais afastados, é também uma homenagem à luta que foi feita pelas mulheres, pelo mundo inteiro, quando não lhes era concedida o direito de voto,por, num mundo de homens, não lhes ser reconhecida a capacidade para ter voz, nos desígnios dos seus países.
Quando nascemos num país e numa época com inteira liberdade de expressão e de escolha, independentemente do género, numa democracia que por muitos defeitos que possa apresentar,não anda a prender e a torturar as pessoas ate à quinta geração, pelo facto de manifestarem a sua opinião, por vezes acabamos por desvalorizar direitos que por considerarmos adquiridos, achamos de ‘menor-valor’.
”Não gosto dos partidos, não estou de acordo com o rumo que o país está a tomar, vou manifestar o meu desagrado, através da abstenção”.
Na minha modesta opinião, que os especialistas refutam à sua maneira, um cidadão que quer mostrar o seu desagrado, dá-se ao trabalho de ir colocar o seu seu voto na urna – seja ele um voto válido, nulo, ou branco!
Gosto por isso de assumir que Votar não é um dever, mas sim um DIREITO CÍVICO DE TODO O CIDADÃO legalmente ”capaz”.
É a forma que a Constituição tem de reconhecer os seus cidadãos num Estado de Direito, como membros válidos da sociedade – sem reservas!
O que é que isto tem a ver com os relacionamentos, perguntar-me-ão?!
Acontece que, quando ‘mergulhamos’ num relacionamento, somos por vezes alvo de algumas ”mordomias”, com que temos a sorte de ser agraciados pelo noss@ companheir@, como prova do seu amor e carinho.
É algo de que gostamos, que nos faz sentir bem o que nos leva a esquecer que isso não é um direito adquirido nosso.
Por não percebermos que não se trata de uma obrigação do noss@ companheir@ para connosco, acabamos por não criar o hábito de agradecer cada mimo e cada gesto de atenção que nos é carinhosamente oferecido.
Ao perdermos de vista esta perspectiva, faz com que comecemos a sentir estranheza, no dia em que a ”mordomia” não aconteceu.
Nesse momento, em vez de tentarmos perceber o que se passa com o outro e se precisa do nosso apoio, damos início a um processo de duvida e suspeita que, à falta de comunicação consciente, dá início a toda uma série de ”e ses..”, que começam a minar a relação:
”Será que deixou de gostar de mim?”:
”Será que me quer magoar como retaliação a alguma coisa que fiz ou não fiz?”;
”Será que perdeu o interesse, ou encontrou outra pessoa?”;
”Será que não estou atraente/já não lhe agrado?”
Nos relacionamentos, ao contrário da política, não há direitos adquiridos!
Os mimos e as mordomias, ”conquistam-se” a cada dia, fruto da nossa dedicação ao outro!
Num relacionamento a máxima deverá ser: ”Dar para receber, mas sem expectativas de receber” – parece confuso, eu sei!
É tudo uma mudança de perspectiva.
Boas escolhas!